segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fim de Ano

Vamos então para minha publicação de fim de ano!!!

Antes de mais nada, um Feliz Natal (atrasado) e um ótimo 2013 a todos vocês!
Obrigado pelas visualizações.
Prometo melhorar.


Grande abraço!
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O ano acaba,
A mente relaxa
E prepara-se
Para um novo.

Despede-se
Um ano violento,
Em que houve amadurecimento
Na constante batalha racional.
Um ano em que
Houve tristeza
Dispensada pela alegria.
Houve amor
Superado pela razão
Houve explosões
Contidas pela paciência.
Houve magia
Revestida na realidade.
Houve beijos
Resultantes de uma valsa.
Houve surpresas
Absorvidas pela mente.
Houve dor
Física e mental.
Houve abraços
De felicidade e condolência.
Houve preces
E descrenças.
Houve amizades
Intocadas pela mágoa.
Houve inimigos
Que se encaixam hoje
Nestes versos superiores.
Houve sanidade
Atrapalhada pela loucura.
Houve perseverança.
Houve traição
Desconsiderada.
Houve o fim.
Houve o início.
Houve escrita;
Houve fala;
Houve imagens únicas;
E criação.


Neste ano, só não houve
Nada.


Élio Braga , Maria Eliz, Lino Pedro, Benjamim Neto, Tommas D'artoya.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Conversa de Marinheiro

"Joga a âncora!
O capitão mandou!
Corram para os porões,
Temos inimigos à vista!

Não são inimigos...
Mas são homens...
São ou não?"


Élio Braga.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mente Sã


Era uma mente ilesa.
Até que, então,
Não era mais.


Lino Pedro.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Memória Fotográfica


Cada feixe de luz,
Uma memória.
Assim me construi
Através dos anos.

Comprei amores com
O meu próprio amor.
Deixei de lado tudo
Que não fosse luz.

Essas luzes

Penetram fundo
Em minha vista, brincam
Em minha mente e depois
Viram memória.

Essas luzes

Se transformaram em mundo,
Em palavras,
Em você
E em mim.


Benjamim Neto.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Testemunha


Carne crua e
Sangue esparramado
Sujam meu carpete novo
Recentemente comprado.

Não me importo com sangue
Mas sim com sujeira
Que simpatizará com a poeira
Que habita hoje minha alcatifa.

Pobre alma esta que se vai
Deixando tanta vida assim
Ao meu carpete, agora vermelho escuro,
Recentemente comprado.


Lino Pedro.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Soleil


A clara e radiante esfera,
A flamejante, explosiva,
A única fonte de minha vida.


Vejo-a em todo dia claro,
E sinto seu calor em minha pele.
Eis que seu amarelo se torna laranja,
E vermelho,
E some.


Esfera rubra,
Causadora do dia
E da noite.


Habitante da imensidão,
Repousa em minha mão,
Vai embora, enchendo o mundo alheio de luz.


Lino Pedro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Casa Torta


Quatro pilares
Sustentam casas
De cômodos vazios.

Quando tornou-se
Velha, a casa balançou.

Um pilar resistiu.
Outro quebrou-se,
Os últimos desapareceram.

A casa vive suportada
Por um pilar. Um único.

A casa teima em não cair
Enquanto um pilar ainda
A sustentar.

Teimosia? Não,
Confiança.


Élio Braga.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Caso Dos Parques de Londres


1

  Eu caminhava sem direção no Battersea Park, o dia estava escuro, não sabia se ia chover ou não. Eu não tinha acostumado com o clima de Londres ainda. Quando eu avistei o La Gandola al Paro, uma cafeteriazinha dentro do parque, eu decidi que um café poderia me fazer bem. Café sempre me acalma - soa irônico, eu sei. O dia estava gelado, e as pessoas estavam todas lá dentro.
Já não tinha um bom caso fazia tempo, isso me deixava nervoso - sem ter no que realmente pensar. O último bom caso tinha sido um roubo de jóias de uma rica viúva que estava sozinha em sua casa. Era claro que a empregada despedida uma semana atrás não havia ficado muito contente. Pegamos a moça em flagrante vendendo as jóias no mercado negro. Felizmente tenho amigos deste ‘mundo’.
  Estava observando as pessoas ao meu redor : um casal, cujo homem está esperando o momento certo para fazer um pedido de casamento à moça. Ele deve ser filósofo ou sociólogo, pois carrega um livro de Marx na bolsa de couro ao lado direito de sua perna, que treme constantemente devido ao nervosismo. Sua mão direita não para de tocar o bolso de sua 'perna tremedora'. É um homem destro e inseguro. À minha frente, no balcão, um homem toma uma xícara imensa de café com licor de chocolate. Cabelos grisalhos, mãos trêmulas (como a perna de nosso futuro noivo), caixa com pertences, atas, pastas, uma calculadora e chaves do carro ao lado de sua xícara...despedido do emprego. Mas que emprego? Com um sapato bem engraxado assim só poderia ser bancário.
  Meu café com chocolate suíço acabara de chegar, quando um estrondo muito forte foi ouvido por mim e por todos os ocupantes daquela cafeteria – um tiro de pistola, eu sabia. O barulho veio de fora, todos os clientes se levantaram num pulo. Eu deixei as cinco libras em cima da mesa e corri para ver o que acontecera. Uma moça com seus trinta e mais alguns anos estava estirada ao chão, havia sangue em volta dela e ela pressionava a origem do sangramento: seu abdômen.
Seus olhos muito abertos, sua respiração suplicando a vida, ela não teria muito tempo, eu sabia disso. Então a perguntei quem havia feito aquilo, ela abriu a boca para me dizer, mas o sangue de seu estômago, que saía por sua boca, não a deixava falar. Ela arregalou ainda mais os olhos por um ou dois segundos, segurou minha camiseta, me puxando para mais perto dela e finalmente disse: três.

2

  “Três”? O que diabos queria dizer aquilo? Três o que?! Confesso que dentro de mim a felicidade e a angústia brigavam: finalmente um caso intrigante!
  A polícia passou-me alguns dados: Sonya Wallok, publicitária, morava há algumas quadras do Battersea Park, no Nº 18 da Ursula Street, com sua irmã, Lucy, de vinte anos.
  Liguei para meu irmão, nos Estados Unidos, passei-lhe todas as informações que conseguira reunir e no fim ele disse uma coisa que foi de muita ajuda para a resolução do caso: quem comete um crime com uma pistola no meio de um parque, em frente a uma cafeteria, e tem a certeza de que não será pego?
  Eu tinha que começar a investigar alguns pontos de fuga, pois quando sai da cafeteria, não havia ninguém lá fora, exceto a moça. Felizmente a polícia inglesa me conhecia, e passar-me-ia o laudo do médico que cuidara do caso. Fui chamado à porta pelo inspetor Breck, um sujeitozinho muito frio, alto, um pouco acima do peso, e com olhos acinzentados que penetravam na mente das pessoas. Gostei dele. Logo quando entrou já foi direto ao assunto:
  - A polícia quer você neste caso, senhor Allan.
  - Com ou sem o consentimento da polícia eu entraria neste caso, inspetor. – Apertamos as mãos. – Chame-me de Dominick, por favor.
  - Quem você acha que possa ter feito isto? – ele perguntou.
  - Ainda não tenho ideia, inspetor Breck.
  - Então com as informações que lhe passarei, tudo ficará mais fácil. Conheço você e seu irmão... Lann.
  - Lenn.
  - Isto mesmo!Lenn!
  - Há algum crime que se relaciona com este? – perguntei.
  - Bem, na verdade há sim, senhor Dominick.
  - Então diga logo, inspetor! Sem lerdear, conheço a polícia...
  O inspetor tentou manter sua postura séria ao ouvir aquele meu insulto, mas percebi uma veia saltando em sua têmpora, eu não sabia se ria ou se me desculpava.
  - Há um mês, senhor Dominick, aconteceu um crime semelhante no Roundwood Park, uma mulher de mais ou menos vinte anos fora encontrada morta com um tiro no lado esquerdo de seu abdômen. Chamava-se Paola Lucci. Pessoas que estavam perto do local disseram ter ouvido o tiro. Nenhuma arma encontrada e nenhuma pista do assassino, assim como no nosso caso de Battersea. Ela trabalhava numa loja de penhores, vivia sozinha a algumas quadras dali.
  O inspetor fez uma pausa, esperando que eu comentasse algo a respeito, mas apenas fiz um gesto para que continuasse.
  - Por coincidência, Margaret Agrid foi encontrada morta no St. James’s Park, um mês antes do crime de Roundwood Park, dois meses antes deste nosso caso atual.
  - Claro que esta tinha entre vinte e trinta anos, era de classe média e morava a algumas quadras dali, não é?
  - Bom... O senhor percebeu também. Nenhuma arma foi encontrada. Um vendedor ambulante ouviu o tiro e tentou socorrer a moça. Ele diz que a última palavra que ouviu dela foi “um”.
  - Mas é claro que foi. E o laudo do médico? – perguntei.
  - A senhorita Agrid também morreu com um tiro no abdômen. Infelizmente, ela estava grávida de dois meses, e ambos morreram. O marido dela ficou muito perturbado com a história, deu pena do sujeito.
  - Algo mais?
  -Não senhor.
  - Ok, espero que consigamos desvendar o caso. – eu disse.
  - Sim. – O inspetor olhou para o relógio, e arregalou um pouco os olhos – Bem, senhor Dominick, devo ir agora.
  - Tudo bem, você foi de grande ajuda, inspetor Breck.
  - Espero que desvendemos este caso, chega de assassinatos em parques!

3

  Estava na casa da primeira vítima, na 29 da Great Peter St. Fui recebido pelo viúvo da Srta. Agrid, Paul Agrid. Ele aparentava tristeza, mesmo dois meses após o assassinato de sua mulher (não sei como ainda conseguia). Era um homem alto, magro e tinha olhos castanhos que combinavam com a cor de seus cabelos.
Após me sentar numa poltrona indicada pelo Sr. Agrid, comecei:
  - Sinto muito pela sua perda, meu senhor.
  - Obrigado – ele respondeu, olhando para baixo.
  - Preciso que o senhor me diga, estava suspeitando de algo a respeito de sua mulher?
  - O que? Isto é um insulto! Você não pode...
  Interrompi o Sr. Agrid com a mão e disse:
  - Acalme-se, senhor. Preciso que me conte tudo que sabe sobre sua mulher, se tinha algum inimigo, se já havia passado pela prisão, algo que não fique claro só de olhar pra ela.
  - Não há nada! Meu Deus!
  Depois de um minuto ou dois de silêncio, eu pedi ao Sr. Agrid que me dissesse o que sua esposa fizera mais cedo naquele dia.
  - Ela... Saiu, simplesmente saiu.
  - E o senhor não sabe para onde ela foi?
  Houve uma pausa...
  - Tudo bem... Ela e eu havíamos tido uma briga naquele dia, coisa de casais, você sabe...
  - Felizmente, não.
  - Ah, senhor Dominick, são brigas por fatos tão bobos... Havíamos brigado na manhã daquele dia. Ela decidiu sair de casa, passear um pouco, tomar um café. Disse que mais tarde voltava, mas... mas...
  - Sim, eu entendo. – pensei um pouco antes de continuar – Vocês planejaram este filho, creio eu?
  - Sim, seria nosso primeiro.
  - Ótimo! Fazer as coisas de forma pensada é essencial.
  O resto da conversa foi um blá-blá-blá infernal, que me fez querer sair de lá o mais rápido possível.
  Após voltar para o hotel onde me hospedara, subi ao meu quarto e sentei no sofá com as pernas cruzadas. Fiquei pensando nas duas outras vítimas. Este primeiro assassinato já estava deduzido, me restavam dois outros que, se comprovassem minha teoria, seriam os dois últimos que este assassino teria sucesso.

4

  Agora eu me encontrava na 111 da Wrottesley Road, perto de Roundwood Park.  Na casa de Paola Lucci estava sua irmã, Mary, uma moça baixa, de rosto fino e com um ar de impaciência. Talvez ela não quisesse falar, mas, felizmente, eu gosto de quando as pessoas não querem falar.
  - O crime aconteceu há mais de um mês atrás, não foi, senhorita Mary?
  - Sim, senhor Dominick. Uma tragédia! Queria eu mesmo pegar o salafrário pelo pescoço e...
  - Acalme-se, senhorita. – fiz um gesto com a mão – Deixe este trabalho para a polícia.
  - Espero que o façam antes deste sujeito fugir, como fazem todos os assassinos atuais. Agora me diga, o que quer saber de mim?
  - Preciso que a senhorita me responda a algumas questões.
  - Pode dizer – ela respondeu.
  - Sua irmã morava sozinha aqui, ela tinha algum namorado ou companheiro?
  - Bem, ela estava saindo com um tal de Paul (não sei nem seu sobrenome), um sujeitozinho estranho, eu não gostava nada dele! Minha intuição diz que... que...
  - Nada de se precipitar, senhorita.
  - Sabe como são as mulheres quando apaixonadas. Ficam tolas!
  - Nem todas, senhorita. Conheço muitas mulheres que... – parei um pouco – Isto não é assunto para minha visita. Sua irmã estava saindo com este Paul há quanto tempo?
  - Menos de um mês. Ela o conhecera num desses barzinhos, ou cafeteria, não me lembro.
  - Entendo. Onde este Paul mora?
  - Também é um fato que não sei. Ele nunca convidou Paola a ir à sua casa.
  - Descreva-o, por favor.
  - É um desses homens pelos quais a mulheres se apaixonam facilmente: tinha olhos azuis, cabelo militar loiro, era alto e magro. Confesso que seu olhar me dava medo, algo de muito esquisito existia na mente do sujeito. Passaram-se duas semanas após o primeiro encontro e ele disse que não queria mais sair com ela, porque se apaixonara por outra, o senhor pode acreditar? Que sujeito insensível!
  - Sim, posso.
  A senhorita Mary só faltou dizer “que homem estranho”, mas preferiu reter-se a me olhar de forma indignada.
  - Acho ridículo isto que ele fizera, Paola ficara arrasada. Precisa de algo mais, senhor Dominick?
  - No dia do assassinato de sua irmã, ela te avisou que iria ao Roundwood Park? E Com alguém?
  - Ela me ligara, mas eu não estava em casa. Deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica, ela parecia muito feliz. Não me disse aonde iria, disse apenas que sairia de novo com alguém muito especial.
  - A que horas foi isto?
  - A mensagem fora deixada as quinze para as nove da noite, senhor.
  - Ótimo. Muito obrigado, senhorita Mary, foi-me de grande ajuda.
  Depois de me despedir, fui ao Roundwood Park. Andei vagamente por toda sua extensão e percebi que ao lado do parque havia um cemitério. Eu precisava ligar para o inspetor Breck.
  O inspetor Breck me atendeu rapidamente no telefone de seu escritório. Eu sabia que era um telefone de escritório, pois eles têm seu ruído característico.
  - Inspetor Breck, onde fora encontrado o corpo da senhorita Lucci?
  - A Nordeste do parque. Pessoas que passavam por perto tentaram socorrê-la, porém nem os médicos, que chegaram logo depois, conseguiram fazer algo.
  - Perto do cemitério, você diz?
  - Sim, isso mesmo. Algo em mente, meu amigo? – Ele perguntou.
  - Está tudo ficando mais claro,contudo não quero definir nada ainda. Muito obrigado, inspetor.
  - Qualquer hora que precisar, senhor Dominick.
  Encostei-me ao sofá, liguei a televisão no mudo. Felizmente havia em meu celular uma quantidade imensa de músicas dos psicodélicos anos 70 – elas me faziam pensar melhor. Liguei-as e fiquei observando as pessoas da TV. Na manhã seguinte eu faria uma visita. A última.

5

  A senhorita Lucy estava inquieta, parecia que o estofado do sofá onde sentava não iria aguentar muito tempo aos arranhões de seu dedo indicador. Tentei acalmá-la:
  - Acalme-se, senhorita Lucy. Só quero lhe fazer algumas perguntas.
  - É que não estou acostumada com a visita da polícia em minha casa, senhor Dominick.
  - Polícia? Não, não sou da polícia. Por melhores que sejam os policiais ingleses, não se comparam aos meus métodos. – Lucy me olhou como se quisesse dizer “humildade não é seu forte, não é mesmo?”.
  - Perdoe-me, senhor Dominick. Diga-me, o que quer saber?
  - Sua irmã tinha namorado?
  - Isto é importante?
  - Muito importante. – respondi quase a insultando. Eu não perdia meu tempo fazendo questões sem importância.
  - Tudo bem. Sonya estava saindo com um homem chamado Jim. Loiro, alto, barbudo. Era-me muito bonito.
  - Suponho que Sonya e você não conheciam sua casa?
  - Ao contrário, senhor – ela respirou profundo – Sonya fora passar à tarde com ele em sua casa no dia em que... em que...Bem, ela me deixou seu endereço. Randolph Avenue ,
  - E este tal de Jim, viu-o depois da morte de sua irmã?
  - Mas é claro! Ele que me contou no dia seguinte (isto é, ontem). Estava arrasado, mas teve que tomar sua posição de homem, quando desmaiei ao ouvir a notícia. Disse que deixou Sonya aqui em frente, para garantir a sua segurança, e foi embora.
  - Então ele veio até aqui ontem. – pensei por alguns minutos. – Depois disto falou com ele novamente?
  - Ele me ligou hoje de manhã, dizendo que viajaria para os Estados Unidos por alguns meses. Queria esquecer-se disto tudo.
  - Estados Unidos? – falei com um tom de piada em minha voz, que a senhorita Sonya não entendera.
  - Exato, senhor Dominick.
  - Ok. Sabe onde este Jim mora? Quero lhe fazer uma visita.
  - Infelizmente não, senhor Dominick. Só minha irmã sabia.
  - Tudo bem, não tem problema. Ele não estaria lá para me receber mesmo.
  - Mas o voo dele é só a noite, se você for agora...
  - Não, – interrompi – ele não está mais lá, senhorita.
  - Como sabe? – ela perguntou um pouco intrigada.
  - Senhorita Lucy, este homem não mora na Randolph Avenue, este homem não está indo aos Estados Unidos. Senhorita Lucy, este Jim é o assassino de sua irmã.

6

  Decidi relaxar nos próximos dias. Passou-se um mês desde a morte de Sonya Wallok. O caso já estava solucionado, eu queria continuar a aproveitar minha estadia em Londres. Não contei nada à polícia, pois sabia que antes daquele dia não haveria outro assassinato.
  Liguei para Lenn de manhã e disse-o que já tinha tudo em mente, só não sabia qual a próxima vez que o assassino atacaria. Não sabia como pegar o assassino, mas sabia o tipo de pessoa e onde ele iria atacar, graças à notícia do jornal daquela manhã.
  Resolvi que pediria ajuda à polícia, desta vez. O inspetor Breck me atendeu:
  - Pois não, senhor Dominick! Algo em mente? Quem é o assassino? Já descobriu tudo, eu imagino...
  - Se você me deixar falar eu posso contar-lhe o que penso. – respondi irritado.
  - Ah, me desculpe senhor. Este é um caso de grande importância, quero o fim disto logo!
  - Inspetor Breck, preciso que coloque homens disfarçados de cidadãos no Peckham Rye Park, a partir das 15 horas. Homens, mulheres e crianças como atores.
  - Entendido, o que quiser, meu caro. – ele disse.
  - Tudo bem, obrigado.


7

  Minhas mãos suavam, eu tinha certeza de que não erraria! O assassino estaria ali! Eu só precisava encontrar as pessoas certas!
  Assim se foi. O campeonato mirim de futebol que aconteceria no Athenlay Football Club, ao Sul do Peckham Rye Park, estava começando. Eram 15 horas em ponto. O inspetor Breck, mais dois homens e eu ficamos escondido atrás de alguns arbustos. Meu objetivo era poder observar uma pequena fonte, ao sul do parque, bem perto do Athenlay Club.
  De repente, um casal se aproximou. A moça devia ter no máximo trinta anos, era alta, tinha olhos azuis e um sorriso deslumbrante em seu rosto – uma idiota apaixonada. O rapaz era alto, tinha cabelo loiro militar, estranhos e profundos olhos azuis, havia um ar macabro em sua face. Não havia dúvida, era ele!
  O inspetor Breck olhou para mim, suas mãos suavam ainda mais que as minhas. Eu fiz um sinal com a mão, pedindo-lhe que só agisse ao meu comando. Ele entendeu e passou a informação aos homens dele.
  Conseguia ouvir claramente a conversa do casal:
  - Alan, você é tão simpático, tão educado. Trazer-me para um lugar assim logo depois de se declarar de forma tão doce, parece que estou nos anos 50 novamente! - ela disse.
  - Não consegui desviar meus olhos de você desde a primeira vez que a vi. Realmente foi muito bom eu ter ido naquele dia àquela cafeteria. E fiquei muito contente de me permitir acompanhá-la no campeonato de futebol de seu filho.
  - Sim, foi ótimo! Pena que terei de voltar logo. O intervalo de jogo dura apenas 15 minutos.
  - Então, nos apressemos – ele disse.
  Depois disto, ele a puxou suavemente pelas costas e a beijou. Passaram-se alguns minutos, e retomaram a conversa. Ela havia se sentado na beira da fonte, ele levantou e parou em sua frente e disse:
  - Minha querida, é aqui que nós terminamos.
  - Como disse? – ela perguntou com um ar espantado.
  - Pois é, quero que me faça um favor. Quando as pessoas vierem te socorrer, diga-as que você foi meu número quatro, tudo bem? O tiro que lhe darei não te matará antes de pelo menos vinte minutos, tempo suficiente para alguém vir até aqui, por conta do barulho. Não faça esta cara de assustada...quando você consegue finalmente fugir de um lugar onde as pessoas te prendem e dizem que você está louco, te dão remédios como se fossem doces, te colocam para dormir como se fosse uma criança, quando você consegue fugir, há de se descontar em alguém. Minha mãe e minha avó não passaram da casa dos 20 e mesmo assim foram felizes, portanto nenhuma mulher neste mundo precisa... Adeus, querida.
  Neste momento eu acenei para o inspetor. O assassino já estava com a mão dentro de seu terno, estava retirando a arma quando um dos homens de Breck pulou em cima do sujeito e segurou-lhe um dos braços, o outro policial rapidamente segurou o braço livre do sujeito abordado. O inspetor Breck correu e pegou a pistola de dentro do terno do homem. A mulher gritava feito louca. Eu a acalmei, dizendo que estava tudo bem e que ela devia voltar para o campeonato, assistir o jogo de seu filho, que já estava voltando do intervalo, de acordo com o barulho feito pelas torcidas. Ela me abraçou, estava tremendo muito, deu meia volta, disse “muito obrigado” aos policiais, e voltou ao Athenlay Club.

8

  O inspetor Breck veio para me esclarecer alguns pontos, e – o mais provável – para me perguntar como eu havia descoberto tudo. Começou:
  - Ele se chamava Jon Parl, 30 anos, desempregado. Vivia do pouco dinheiro deixado de herança por sua mãe, que morreu em trabalho de parto ao dar a luz o seu segundo filho, aos 25 anos. Era totalmente dependente da avó. Vivia escondido, foragido de um hospício há 3 meses.
  - Daí o ódio contra mulheres desta idade. O vazio deixado lhe causou um tipo de trauma e ódio, creio eu.
  - Sim, ele passou pelos mais diversos psicólogos. Segundo consta nos dados, ele matou o irmão também, sufocado. Sua avó, com que passou a viver após a morte da mãe, morreu 4 meses atrás. Foi quando ele parou de tomar seus vários remédios.
  - Quando tudo começou – eu disse.
  - Sim. Agora me conte, por favor, senhor Dominick, como descobriu tudo?
  - Bem, no começo eu não tinha pista alguma, surgiram apenas assassinatos em parques: locais públicos! Não tinha muito sentido, até que eu conheci o local de cada assassinato. Era sempre o mesmo padrão: local isolado, mas perto de pessoas que poderiam ouvir o tiro; os locais onde as vítimas eram encontradas tinham sempre um caminho de fuga; e toda vez acontecia em parques perto das casas das vítimas.
O assassino com certeza enlouqueceu quando parou de tomar seus remédios. A morte da única pessoa que ele ainda amava foi a chave para destrancar sua loucura. Ele decide “se vingar” de todas as mulheres da idade na qual sua mãe se fora, para que estas não fizessem o mesmo com seus filhos. Sim, este é meu porquê do crime. É insano, eu sei, mas não vejo outro.
  "Jon com certeza se passara por um homem de bem, querendo ajudar a senhorita Agrid, cuja briga escutara enquanto passava na rua – ele não perderia esta oportunidade. Seguiu-a até a cafeteria, convidou-a a ir para algum parque, o mais próximo dali. Enquanto a massa de pessoas se concentrava próxima ao Buckhingham Palace, ele aproveitou e levou-a para trás do palácio, num campo aberto, porém cercado por árvores. Ali matou sua vítima número um.
  A vítima número 2, Paola Lucci, morta perto do cemitério. O assassino, um homem bonito que se apresentara com o nome de Paul, faz a moça se apaixonar por ele. Duas semanas depois ele dá um fora nela, mas eis que pede um reencontro, no parque, alguns dias depois. A Srta, Lucci, toda contente, vai ao encontro marcado, provavelmente, às 21 horas. Lá ela é assassinada e o assassino foge pelo cemitério ao lado do parque, que estava fechado, devido ao horário.
  A terceira moça, Sonya Wallok, morta quase da mesma forma: apaixona-se pelo bonitão Jim. Um dia Jim a convida a passar uma tarde com ele, em sua casa. Enquanto estão vindo embora eles passam pelo Battersea Park, onde eu tomava café. Aproveitando o cenário perfeito, pois não havia ninguém tomando café fora da cafeteria, Jim - ou devo dizer, Jon - assassina Sonya, e foge pela margem do rio. As pegadas deixam clara a fuga. Métodos antigos se fazendo atuais...
  Ah, é claro, os locais onde ele procurava suas vítimas: cafeterias. Sua mãe trabalhara numa antes de engravidar de novo (de um homem que Jon nem sabia quem era) e de morrer. Tudo isso fez parte da loucura de Jon. Nem seu irmão mais velho escapou de sua loucura. Foi assassinado sufocado, e então Jon é instalado no hospício. Anos depois, sua avó morre. A notícia chega aos ouvidos de Jon, que consegue finalmente um bom plano de fuga e escapa do hospício.
  Agora sua última vítima, quando não obteve sucesso. Todos nós ouvimos que ele a conheceu no local onde ela trabalha, uma cafeteria. Quando ele soube que ela era solteira, logo se apresentou com o nome de Alan, jogando todo seu charme para cima dela. Ela não perdeu a oportunidade de convidá-lo a acompanhá-la no campeonato de futebol em que seu filho participaria. Por coincidência, ficava ao Sul do Peckham Rye Park. Foi o único local possível que eu encontrei no mapa de Londres, que o assassino poderia usar naquela data, com aquela mulher. O cenário era ótimo: parque, pessoas por perto mas com um local isolado. A fonte. Se acreditam em destino, creio que este assassinato não deveria mesmo acontecer. O padrão de Jon foi quebrado. O parque não ficava perto da casa de sua vítima! É engraçado, eu sei.
  Eu sabia que a tentativa de assassinato ocorreria naquele local, com aquela fonte. Não há lugar melhor no parque do que aquele. Felizmente eu visitara aquele parque antes do assassinato, diferente de todas as outras vezes."
  - E por que escolher os parques como os locais para seus assassinatos? – O inspetor me perguntou.
  - Os parques são frequentemente visitados, é raro não estarem com algumas pessoas por perto. Jon queria simplesmente atenção, o que não conseguira na vida toda. Isso explica seu porquê de não matar as vítimas instantaneamente, mas sim dar-lhes a chance de dizer um número. Imagine se este caso chegasse ao número 5, ou até ao 10? Entende como chamaria atenção da mídia? Era o que ele queria. Fora isso, os parques são locais abertos, onde há sempre pontos de fuga à disposição.
  - Fantástico, senhor Dominick! Fantástico! – seus olhos brilhavam de emoção.
  - Apenas meu trabalho, mas é claro que não foi algo simples.
  - E agora, voltará aos Estados Unidos?
  - Sim, já alonguei demais minha estadia em Londres. Além do mais, tenho que ver a expressão de meu irmão ao contar-lhe a resolução deste caso. Ele ficará com raiva por não ter participado, tenho certeza! – eu ri.
  - Ha!Ha! Irmãos, sempre irmãos. – ele disse brincando.
  - Bom, devo ir. Tenho que arrumar minhas coisas e dormir. Meu avião parte cedo amanhã.
  - Ok, meu amigo. A polícia inglesa tem esta dívida com você!
  - Não se preocupe, inspetor Breck.
  - Muito obrigado, e boa viagem amanhã, senhor Dominick.


Matheus Zucato Robert.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eternidade Poética


Caneta escreve
O que a mente pensa
Que consegue esconder
Do papel.

Tinta e caneta se
Tornaram sinônimos de
Consultor.

Barba rubra:
Parte de mim
E de meus versos.

Papel amarelará,
Barba embranquecerá,
Tinta se esgotará,
Mas meus versos
Serão eternos.


Élio braga.

sábado, 3 de novembro de 2012

Brasis do Brasil


Nação única
Com inquilinos diferentes
E adversos,
É Brasil.

Povo único,
Com amores diferentes
E parelhos,
É Brasil.

Climas mentais
E almas pacíficas:
Crianças de colo,
É Brasil.

Cores distintas,
Como os olhos são.
E até que estes chorem sozinhos,
Não seremos Brasil.


Élio Braga.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Lei de Cegos.

Assovios horripilantes
Comandavam-nos,
Como cães.

Vida ou morte:
Era lei.

Famosa lei.
Impiedosa lei.
Assassina.

Lei da cegueira.
Lei da esmola.
Lei de reis e também
De mendigos.

Lei do roubo.
Lei imoral.
Lei perfeita
Aos que o mundo
Querem comandar.


Lino Pedro.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Aroma de Piedade


Praça.
Latinhas ruidosas.
Ossos.
Desespero por
Atenção.

Irrita-me.
Odeio-o.
Cheira-me, confuso.
Confuso permaneço também.

Aroma diferente,
Algo novo.
Menino só.
Capitão da areia.

Sinto seu aroma:
O que é banho?
E ele o meu:
Estranheza ao perfume.

Meu coração se fecha.
Meus olhos se calam.
Um sorriso daqui.
Outro dali.
O menino se vai,
Latinhas mudas.
Mundo mudo.
Poeta mudo.


Lino Pedro.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Regeneração


Cada vez que cativo-me
Em novos sentimentos
Inusitados e incompreensíveis,
Deixo um pouco de mim.

Deixo sonhos, verdades
Confissões e sentimentos:
Alguns singulares,
Alguns ineptos.

Sem enrolação...
Já obriguei-me a
Cumprir um objetivo:

Doar cada pedaço meu
Até que um deles fixe-se em algo
Que possa me regenerar.


Benjamim Neto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Autofobia


Ultimamente tenho fracassado
Em lutar contra meus pensamentos.
Vivo inteiramente logrado
Pelos maléficos sentimentos.

Criei grades de cadeia
Para que não precise
Temer a própria teia
Que construo.

Atualmente tenho medo, também,
De ficar sozinho, de me encarar,
Como se fosse outro alguém.

Começo agora a me digerir
Em pedaços menores
E mais fáceis de engolir,

Porque vomitar meu ser,
Todos os dias, me faz crer
Que meu descarte já é certo.


Lino Pedro.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Girassol Vermelho


Arranjei um refúgio indomado
Que impede que
Eu realmente fuja.

Tenho em mim
Afetos distantes,
De maior valor, até.

Ah, sim,
Desde que escureceu
Os girassóis não giram mais
Para meu lado.

Sou deixado aqui
Com cheiro de flor,
Com cheiro de lembrança,
Com cheiro de amor.


Benjamim Neto.

sábado, 6 de outubro de 2012

Corrompido


O medo me corrompe
E liberta a raiva,
O ódio e a amargura que
Guardo dentro de mim.

Preciso sumir
Dos olhos humanos,
Viver entre os animais,
Que não têm capacidade
De julgar.

Quero sofrer um acidente,
Por acidente mesmo,
E acabar subindo ao
Purgatório

Pra pagar meus pecados
Que hoje cometi,
Mesmo sem saber quais são.


Élio Braga.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Rosa Murcha


Ainda deitada,
Pedi ao cavalheiro
Que me comprasse rosas,
Pois a que via em mim
Murchara há tempos.

Tenho cheiro de morte
(Temo não servir nem à ela).

Ah, é claro que não sentirei
Mais o sabor do amor,
Pois criei espinhos.
E dos piores.


Maria Eliz

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Como o Vento


Tão difícil
Ser feliz, que fico feliz
Em ser triste.

Tão aprazível
E ao mesmo tempo turbulento,
Como o vento :

Este sou eu,
Tentando ser gente,
Tentando viver neste mundo.


Lino Pedro.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Juba Cacheada


Sinto falta dos cachos
Que definiam meu perfil
De estranheza.

Quantas boas memórias
Possuíam aqueles cachos
Que agora escorrem pela minha
Memória.

Sinto um âmago imenso
Em deixar que a juba se forme
E dê frutos.

Não me confundam com leões,
Pois não sou da realeza;
Apenas usava peruca cacheada.


Anônimo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alucinógeno


Eu voava tão alto;
Brigava com as nuvens,
Como se elas não fossem permitir
Que eu passasse por entre elas.


Eu corria tão rápido
Que os passageiros de trem
Me acenavam, alguns espantados,
Mas acenavam, e eu os acenava de volta.


Eu nadava tão rápido
Que fugia de predadores, facilmente,
E apostava quem chegaria ao paraíso primeiro
Eu, ou as tartarugas?


Fazia tudo tão bem
Que comecei a achar que
Eu não era quem sou,


Era outro...
Um outro trivial qualquer.




Élio Braga.

sábado, 15 de setembro de 2012

A Besta e o Livro.


Se eu risco
O livro, me arisco
De perder o riso
Que já tinham os rabiscos
Escritos.

Me alerto à
Lanterna;
A antena ligada até
Atenas (se preciso).

Continuo atento,
Sem perder o sustento
Que me dão as histórias
Cujas memórias

São concertos
Que consertam
Minh'alma.

Acendo a vela
Que me ascende
Ao que costumam chamar
De imaginação.

Para a besta
Basta ler e
Virar gente.


Lino Pedro.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Entorpecente


O som do vento sumiu,
As imagens tomavam forma:
A sua.

Já conseguia sentir
O frio do lago,
O cheiro da natureza
E sua presença.

A magia era forte,
Quase tão forte quanto
É meu dom de quietude
E serenidade.

Atingiu-me no peito uma força
Sem nenhuma piedade
Em viciar-me à sua imagem.

O clímax se formava,
Mas então a realidade trouxe-me
De volta ao leito onde
Jaziam agora corpo
E decepção.

Permaneci memorizando.
Não havia necessidade de voltar
Ao sonho, pois persiste-me (ainda)
A concepção de transformá-lo
Em realidade.


Benjamim Neto.

sábado, 8 de setembro de 2012

Ciclo Vicioso



Já notou como
Está diferente o reflexo
De teus olhos?

Eles parecem extrair de mim
O pouco de felicidade
Que ainda resta-me.

Parei de intrometer-me
No que mudou,
Pois mudar é fácil,
Difícil é não mudar mais
Depois de mudado.


Lino Pedro.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ordem Materna


Estava cavando o solo
Para minha próxima viagem,
Mas interrompeu-me de continuar
A imaculada rocha-mãe.

Como a escassa luz, ela
Se pôs a persuadir-me
A voltar, pois o chão e seus vermes
Ainda não me aceitavam.

Tomei então o caminho
De volta à vida;
Afinal, para ordem de mãe
Não existe negação.


Benjamim Neto.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Teatro

O teatro estava marcado.
A data ainda era desconhecida;
Poderia ser hoje, ou amanhã.
Ou nunca, talvez.

Ensaiamos e ensaiamos;
Na verdade, ensaiei até por
Demais.

Os tambores rufaram;
O público acomodou-se;
A expectativa crescia
Nas veias dos espectadores...

A cortina se abriu
E, por fim,
Quem encenou
Não fui eu.

O que mais rasgava minha mente
E serrava meus ossos
Não era contemplar minha própria ausência,
Mas sim ver meu papel sendo atuado por outro.


Élio Braga.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Queda

A chuva cai,
E com ela as esperanças
Que ainda existem,
Pairando por aqui.

O mundo adora
Pregar peças.

A falsa chuva
Nem umedece a mente
Flamejante que tenho.

É pouca água
Para muitas chamas.

É frio inútil
Para meu calor.



Lino Pedro.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Vendedor de Corações.

Readquirido o coração perdido,
Corri de volta à loja
Da esquina.

O senhor arcaico
Logo me argumentou
Sobre a veracidade daquilo,

Disse-lhe que era tão autêntico
Quanto eram-lhe seus sonhos.
O velho me pagou dobrado.


Élio Braga.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Acabou em Soneto


Voltei do sossego
Que tive no litoral!
Ah, que ótimo foi
Dormir sem precisar acordar.

Melhor ainda eram
As ondas quebrando a
Quietude que pairava
Naquele lugar.

Estava no paraíso,
Num estado de oásis
Enquanto enamorava o mar.

Agora a briza do mar
Foi extinta, por conta
Do bafo de álcool, que dorme.


Maria Eliz

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Primata

Deixe-me olhar
Nestes olhos
E dizer que vejo
Os meus.

Ensina para mim
Tudo que sabe?
Sou primata
E não sei amar.

Sou o próprio conceito
De cetiscismo em pessoa,
Quando o assunto é amor.

Mas sei que se vir
E sentir essa coisa absurda
Cousas deverão prosperar.



Benjamim Neto.

sábado, 4 de agosto de 2012

True King

"Let me tell you a story..."
E papai lia para mim
Lindas estórias
De 'Adventures of England'.


Elas diziam sobre
Os mais famosos dos Kings
Que meu país já teve.


Depois que papai leu
A todas aquelas umas,
Descobri que o verdadeiro
De todos os Kings
Era o que lia para mim.






Tommas D'artoya.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fingidor Desafortunado

Passei a contemplar, então,
Os inúmeros raios
De sol, que competiam
Com minha vista.


O dia era calmo.
Até mesmo o tempo
Deu trégua.


Mas, meu tênue encanto
Foi, de fato, por um pássaro
Que fingia ser gente:


Ele cantava,
Assoviava,
Dormia
E voava,


Assim como eu.




Lino Pedro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Declarações de Jacques Pierre I

Quando jovem, tentei ser escritor, jornalista e poeta.
Não sucedi em nenhuma destas profissões.
Meu único sucesso foi fracassar em tudo. 
Só não fracassei em amar perdidamente uma dama.
Uma dama que amei e que me amou.
Seu nome? Não importa mais.
Está perdido entre muitos outros nomes em minha memória.
Aqui neste papel, estão cravados mágoa, 
arrependimentos e raiva daquela noite;
A noite em que tudo acabou!
Em que, depois de meses, era a primeira vez
Que aquela dama ia embora para casa sozinha
A primeira noite que, em vez de escrever com tinta
Escreveria com arrependimentos. 
Eis o papel, meus amigos:


" Mas nem adiantaria que eu me deitasse esta noite
Dormir está fora de contexto, chorar também.
Procuro distrair-me, mas com o que?
Por que estar com o corpo em outra coisa
Quando a mente ainda está com ela?
A mente, e os pedaços do que era meu coração.
Pois só de pensar nela, meu corpo se esfria
Só de pensar nela, um suspiro sai de mim
Só de pensar nela, me vem a vontade
De além de pensar, estar com ela.
Que um raio caia sobre mim
Se eu não for o mais infeliz francês deste país, hoje!
Fecho os olhos, a vejo.
Olho para a Lua, a vejo.
Olho para a rua, a vejo.
Só não a vejo onde deveria vê-la
Aqui comigo."


Jacques Pierre.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Nas Profundezas Mentais

Procuro ,no abismo da mente,
A competência da razão.


Quero sossego e segurança
Nos meus cálidos ócios.


Serenidade ilusória,
Esta minha.






Lino Pedro.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Frio Como o Fogo

Gelo, neve,
Tão insípidos quanto eu.
Não tenho escolha, é complicado
Governar um ártico mental.


Pra quem mais uma vez
Provou de solene verdade,
Posso dizer que não é por birra
Que vivo como uma vela, apagada.


Liberto de mim, enchi-me
De calor humano,
Que já desmantelou-se
Pela própria ordem natural .


O frio reside, novamente, aqui,
Dentro de mim.
Não por muito, creio eu...


Não mesmo! Tenho convicção de que
Minha natureza não se baseia
Em estagnação e sentimentos lânguidos,
Mas sim em fogo, do mais gelado fogo.


(Baseados em minha
Ironia humana).




Benjamim Neto.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Inquietação

Acalme-se.
Tenha calma.


É só questão de tempo
Até este acordar
E ir embora.


...


E sair de cima de mim!
E acertar a conta!
E, espero eu,
Nunca mais voltar!


- Vamos, acorde,
Pois já se esgotou teu tempo, homem!


...


"Outra noite tediosa".
Foi apenas isto.




Maria Eliz.

domingo, 15 de julho de 2012

Perdão

Peço perdão;
Suplico-lhe que ainda
Me goste.


Quando a mente não
É mais pedaço do corpo
Tudo se torna irreal.


Ainda sou o mesmo
Afável rapaz.
Ainda sou, sim.


Apaguemos as luzes
Para que a escuridão
Tome conta de apagar
O que nos foi irreal, então.


Acendamos outra luz,
Para que esta nos oriente
Pelo caminho que ainda pisaremos.


Só isso:
Aprendamos com a escuridão
E nos guiemos pela luz.




Élio Braga.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Tempestade

Mas é claro
Que a tempestade
Que causamos
Devastou tudo.


Como podem
O frio, o vento,
A música e o amor
Não criarem tempestade?


E no fim
Não sobrou nem chão,
Nem nada.


Pairou no ar
Um aroma muito bem conhecido
Por nós : o nosso.




Benjamim Neto.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sol à Noite

Passei a noite
Em claro;
Passei bem.


Não passamos juntas,
Pois não pude ficar.


Queria poder
Jazer em seu leito.


Queria não sentir saudades.
Queria não sentir.




Maria Eliz.

domingo, 8 de julho de 2012

Lúgubre Penedo

É preciso
Ser novamente
Aquele lúgubre
Penedo.




Élio Braga.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Dama

Veja, que beleza feérica:
Uma linda dama que de alguma maneira
Me deixa louco, sendo tão belos assim
Seus olhos cor de nogueira.


Mas que bela és,
Minha doce e linda camponesa.
Quão bom foi Deus
Que mesmo em teus modos, lhe deu beleza.


E que riso inócuo e belo tens;
Que olhos, cor do mel
Que me fazem considerar
Se  já não morri, e estou no céu.


Eis uma legítima dama,
Cuja autoridade é lei
Aos de coração incauto.




Élio Braga.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dança da Chuva

Aroga, garoa,
Aroga agora!
Garoa, aroga!


Roaga, garoa,
Roaga!




Lino Pedro.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Gringa

Acordei cedo,
Pois precisava,
Novamente,
Ver teu rosto.


Acordei cedo,
Mesmo cansada:
Sabia que logo
Ias embora.


Ó, gringa,
São todas assim como tu,
Fora deste meu país?


Se forem,
Arrumas para mim,
Uma passagem
Só de ida?


Maria Eliz

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Bonne Nuit

Hoje tive a feliz surpresa de recolher um escrito de um cliente diferente dos que costumeiramente recebo. Seu nome descobri ser Jacques Pierre - deve ser francês, ou belga. Bem, como prometido a todos os clientes que recebo, posto o referente escrito que ele me deixou sob sua garrafa de vinho do Porto que comprou (que agora já está vazia).

Élio Braga.

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Bonne Nuit


Sou Jacques Pierre,
Imigrante embriagado
Um contador de histórias
Antigas, guardadas no passado

Tentando não me debulhar em prantos
Que conto-lhes aqui
A história
De meu avô, que vi partir

"Quando a hora chega
Deus há de vir
E lhe convidar pro céu
Pois é hora de partir"

Anos se passaram
E seu ditado eu esquecera
Até que a idade chegara
E meu velho adoecera

Quando já jazia na cama
Me pediu lápis e papel
Sentiu que a hora chegava
E que Deus viria do céu

Eu o olhava
Em um silêncio total
Ele olhava para cima
Esperando seu final

As mãos trêmulas
Uma com lápis, outra com papel
O tempo acabava, lágrimas
Em seus olhos cor de mel

Até que seus olhos
Vi se abrirem, com espanto
Ele começou a escrever
Pobre velho, tremia tanto

Quando o olhei, deu um suspiro
Me olhou, sorriu
Olhei, suas mãos pararam
Meu bom velho partiu

Assim, peguei a carta;
Eis que a leio agora:
"Não teime, meu amigo
Pois todos têm sua hora"


Jacques Pierre.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Descontentamento

Braços animalescos.
Carne suína.
Ódio costumeiro -
Selvagem banal!


Será tão inusitada
A presença de alguma
Agradável criatura?


Quero cama só pra mim.
Ou então para outra de mim.




Maria Eliz.

sábado, 23 de junho de 2012

Pérolas Negras

Não se espante
Ao se deparar
Com um doce sorriso,
Como este.


Ainda melhor é
Ser cativado pelo brilho
Destas obscuras
Pérolas negras.


Um brilho que
Compete com
O de uma alma vibrante :
Dom de poucos.


Basta deixar se levar
Pelo deslumbrante eclipse ocular.


Basta tentar resistir,
E falhar diante delas.




Benjamim Neto.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Baile de Cortinas

"Dancem para mim
Cortinas brancas
De meu lar.


Dancem como costuma fazer o
Doce vento
Em minha tez.


Balancem para lá
E para cá.
Mais uma vez, e mais uma!


Meu olhos lhes escoltam..."
Como pode, meu Deus, ser tão formosa
Uma dança de cortinas?


Não resisto à estagnação:
Vou abrir as ventanas
Para que se ponham, novamente,
A bailar.




Lino Pedro.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Suor de Porco

Ah, mas que tédio...
Sinto me enjoada
De marmanjos sujos,
Viajantes de estrada.


Aquela porcaria de animal
Que em minha cama suava,
Que com sua imensidão abdominal
Despejada sobre mim, me sufocava


Ao menos teve a coragem
De partir sem pedir
Que eu guardasse (mais) uma mensagem:


"Voltarei mais vezes,querida",
Como é o caso de vários
Dos porcos que daqui
Fazem seu santuário.




Maria Eliz.

domingo, 17 de junho de 2012

Amigos Derradeiros.


Dias e dias suando a camisa
Para nem sequer ser lembrado
Por quem dizia uma vez ser amigo;
Por quem hoje é uma pessoa do passado.


Tantas e tantas horas
De risos em épocas de veraneio;
De mentes pensando e
Brilhando em bares alheios;


Tanta e tanta amizade oposta
À diferença entre dois meninos antigos
Que hoje, infelizmente, não se
Intitulam amigos.


Pois garanto: a alegria de poder rir fartamente
Só é vista nos que resguardam em mente
Cada um de seus amigos.




Élio Braga.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tâmisa, the Thames

Ó, querida Londres,
Toda vez que venho
Neste bar, acabo por me lembrar
De sua beleza que em lembranças tenho.


Ó, querida Londres,
Quem dera, como dizem por aqui,
Poder um old Mr. Tommas
Lhe visitar mais uma vez.


Oh, darling London...
Oh, querido Thames
Não existirá , jamais, ninguém
Que mais do que eu te ames.






Tommas D'artoya

terça-feira, 12 de junho de 2012

Escravos

Nada irá comigo
Quando eu morrer.
Nem o dinheiro, nem os amigos
Nem meus poemas, nem meu amor.


Então para que fazer tudo
Neste mundo
Se no final ficaremos
Com nada?


Bastou-me decobrir
Que o que realmente importa
É ,de fato, o que deixamos para os outros
Que virão depois de nós,
Para que eu pudesse então compreender:


Somos meros escravos de nossos atos.
Somos apenas comandados incautos
Do tempo e da vida.
Afinal, não somos nada além
De lembranças.




Lino Pedro.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Beleza Oriental

Foi o único modo que me fez lembrar
Que existia o lugar do outro lado
Do mundo.


Aqueles olhos miúdos...


Era linda! Assim também eram
Os seus olhos:
Tão orientais
Quanto sua beleza.


Seu corpo, semelhante ao meu
Me deixava muito mais eufórica
Do que a maioria dos pagantes 
Conseguiam sequer fazer.


Deixo esta coisinha
Para ser publicada,
E para que eu possa atendê-la novamente;
(E desta vez, fica
Por conta da casa).


Quem diria
Eu pudesse atender
Somente gente
Como você.


Deixo esta
Para a tua maravilhosa beleza
Que me leva à tristesa
De não lhe conhecer melhor:
Para tua beleza oriental.




Maria Eliz.

domingo, 10 de junho de 2012

À Noite

Um sono, 
Um sono gostoso
Com sabor de alívio.


Uma esperança
De poder algum dia
Mergulhar...


Mergulhar num oceano
Que há muito não via,
Mas que há muito
Tinha comigo em minhas noites.


Nós vimos a noite se ir,
Vimos o dia chegar.
Vimos o que não víamos havia tempos
Um no outro.


Pensamos o que não falamos,
Falamos o que não pensamos.
A hora passou sem nos avisar,
E a noite ficou curta, mas melhor.




Benjamim Neto

sábado, 9 de junho de 2012

Bar Do Élio

Sejam bem-vindos ao Bar Do Élio!

Este é o ponto de encontro de escritores, músicos, poetas, bêbados(,) depressivos e etc.

 Temos alguns clientes que já são antigos por aqui, como é o caso do senhor Lino Pedro, um excelentíssimo médico aposentado; o senhor Tommas D'artoya, um imigrante inglês que mora não muito longe daqui; a senhorita Maria Eliz, uma prostituta contadora de histórias ( vale lembrar que minhas segundas-feiras são alegradas exclusivamente por conta das histórias dos homens com quem ela já ''trabalhou'' ); e o senhor Benjamim Neto, que raramente escreve-me algo.
 Eu, Élio Braga, sou o dono desta espelunca juntadora de histórias, e espero lhes servir de forma muito satisfatória.
 O cardápio ainda está pequeno, mas espero que gostem de nosso bar, o Bar do Élio!


Por ora, é só.


Élio Braga.