quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Juba Cacheada


Sinto falta dos cachos
Que definiam meu perfil
De estranheza.

Quantas boas memórias
Possuíam aqueles cachos
Que agora escorrem pela minha
Memória.

Sinto um âmago imenso
Em deixar que a juba se forme
E dê frutos.

Não me confundam com leões,
Pois não sou da realeza;
Apenas usava peruca cacheada.


Anônimo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alucinógeno


Eu voava tão alto;
Brigava com as nuvens,
Como se elas não fossem permitir
Que eu passasse por entre elas.


Eu corria tão rápido
Que os passageiros de trem
Me acenavam, alguns espantados,
Mas acenavam, e eu os acenava de volta.


Eu nadava tão rápido
Que fugia de predadores, facilmente,
E apostava quem chegaria ao paraíso primeiro
Eu, ou as tartarugas?


Fazia tudo tão bem
Que comecei a achar que
Eu não era quem sou,


Era outro...
Um outro trivial qualquer.




Élio Braga.

sábado, 15 de setembro de 2012

A Besta e o Livro.


Se eu risco
O livro, me arisco
De perder o riso
Que já tinham os rabiscos
Escritos.

Me alerto à
Lanterna;
A antena ligada até
Atenas (se preciso).

Continuo atento,
Sem perder o sustento
Que me dão as histórias
Cujas memórias

São concertos
Que consertam
Minh'alma.

Acendo a vela
Que me ascende
Ao que costumam chamar
De imaginação.

Para a besta
Basta ler e
Virar gente.


Lino Pedro.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Entorpecente


O som do vento sumiu,
As imagens tomavam forma:
A sua.

Já conseguia sentir
O frio do lago,
O cheiro da natureza
E sua presença.

A magia era forte,
Quase tão forte quanto
É meu dom de quietude
E serenidade.

Atingiu-me no peito uma força
Sem nenhuma piedade
Em viciar-me à sua imagem.

O clímax se formava,
Mas então a realidade trouxe-me
De volta ao leito onde
Jaziam agora corpo
E decepção.

Permaneci memorizando.
Não havia necessidade de voltar
Ao sonho, pois persiste-me (ainda)
A concepção de transformá-lo
Em realidade.


Benjamim Neto.

sábado, 8 de setembro de 2012

Ciclo Vicioso



Já notou como
Está diferente o reflexo
De teus olhos?

Eles parecem extrair de mim
O pouco de felicidade
Que ainda resta-me.

Parei de intrometer-me
No que mudou,
Pois mudar é fácil,
Difícil é não mudar mais
Depois de mudado.


Lino Pedro.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ordem Materna


Estava cavando o solo
Para minha próxima viagem,
Mas interrompeu-me de continuar
A imaculada rocha-mãe.

Como a escassa luz, ela
Se pôs a persuadir-me
A voltar, pois o chão e seus vermes
Ainda não me aceitavam.

Tomei então o caminho
De volta à vida;
Afinal, para ordem de mãe
Não existe negação.


Benjamim Neto.