Assovios horripilantes
Comandavam-nos,
Como cães.
Vida ou morte:
Era lei.
Famosa lei.
Impiedosa lei.
Assassina.
Lei da cegueira.
Lei da esmola.
Lei de reis e também
De mendigos.
Lei do roubo.
Lei imoral.
Lei perfeita
Aos que o mundo
Querem comandar.
Lino Pedro.
Praça.
Latinhas ruidosas.
Ossos.
Desespero por
Atenção.
Irrita-me.
Odeio-o.
Cheira-me, confuso.
Confuso permaneço também.
Aroma diferente,
Algo novo.
Menino só.
Capitão da areia.
Sinto seu aroma:
O que é banho?
E ele o meu:
Estranheza ao perfume.
Meu coração se fecha.
Meus olhos se calam.
Um sorriso daqui.
Outro dali.
O menino se vai,
Latinhas mudas.
Mundo mudo.
Poeta mudo.
Lino Pedro.
Cada vez que cativo-me
Em novos sentimentos
Inusitados e incompreensíveis,
Deixo um pouco de mim.
Deixo sonhos, verdades
Confissões e sentimentos:
Alguns singulares,
Alguns ineptos.
Sem enrolação...
Já obriguei-me a
Cumprir um objetivo:
Doar cada pedaço meu
Até que um deles fixe-se em algo
Que possa me regenerar.
Benjamim Neto.
Ultimamente tenho fracassado
Em lutar contra meus pensamentos.
Vivo inteiramente logrado
Pelos maléficos sentimentos.
Criei grades de cadeia
Para que não precise
Temer a própria teia
Que construo.
Atualmente tenho medo, também,
De ficar sozinho, de me encarar,
Como se fosse outro alguém.
Começo agora a me digerir
Em pedaços menores
E mais fáceis de engolir,
Porque vomitar meu ser,
Todos os dias, me faz crer
Que meu descarte já é certo.
Lino Pedro.
Arranjei um refúgio indomado
Que impede que
Eu realmente fuja.
Tenho em mim
Afetos distantes,
De maior valor, até.
Ah, sim,
Desde que escureceu
Os girassóis não giram mais
Para meu lado.
Sou deixado aqui
Com cheiro de flor,
Com cheiro de lembrança,
Com cheiro de amor.
Benjamim Neto.
O medo me corrompe
E liberta a raiva,
O ódio e a amargura que
Guardo dentro de mim.
Preciso sumir
Dos olhos humanos,
Viver entre os animais,
Que não têm capacidade
De julgar.
Quero sofrer um acidente,
Por acidente mesmo,
E acabar subindo ao
Purgatório
Pra pagar meus pecados
Que hoje cometi,
Mesmo sem saber quais são.
Élio Braga.
Ainda deitada,
Pedi ao cavalheiro
Que me comprasse rosas,
Pois a que via em mim
Murchara há tempos.
Tenho cheiro de morte
(Temo não servir nem à ela).
Ah, é claro que não sentirei
Mais o sabor do amor,
Pois criei espinhos.
E dos piores.
Maria Eliz
Tão difícil
Ser feliz, que fico feliz
Em ser triste.
Tão aprazível
E ao mesmo tempo turbulento,
Como o vento :
Este sou eu,
Tentando ser gente,
Tentando viver neste mundo.
Lino Pedro.