sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Teatro

O teatro estava marcado.
A data ainda era desconhecida;
Poderia ser hoje, ou amanhã.
Ou nunca, talvez.

Ensaiamos e ensaiamos;
Na verdade, ensaiei até por
Demais.

Os tambores rufaram;
O público acomodou-se;
A expectativa crescia
Nas veias dos espectadores...

A cortina se abriu
E, por fim,
Quem encenou
Não fui eu.

O que mais rasgava minha mente
E serrava meus ossos
Não era contemplar minha própria ausência,
Mas sim ver meu papel sendo atuado por outro.


Élio Braga.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Queda

A chuva cai,
E com ela as esperanças
Que ainda existem,
Pairando por aqui.

O mundo adora
Pregar peças.

A falsa chuva
Nem umedece a mente
Flamejante que tenho.

É pouca água
Para muitas chamas.

É frio inútil
Para meu calor.



Lino Pedro.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Vendedor de Corações.

Readquirido o coração perdido,
Corri de volta à loja
Da esquina.

O senhor arcaico
Logo me argumentou
Sobre a veracidade daquilo,

Disse-lhe que era tão autêntico
Quanto eram-lhe seus sonhos.
O velho me pagou dobrado.


Élio Braga.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Acabou em Soneto


Voltei do sossego
Que tive no litoral!
Ah, que ótimo foi
Dormir sem precisar acordar.

Melhor ainda eram
As ondas quebrando a
Quietude que pairava
Naquele lugar.

Estava no paraíso,
Num estado de oásis
Enquanto enamorava o mar.

Agora a briza do mar
Foi extinta, por conta
Do bafo de álcool, que dorme.


Maria Eliz

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Primata

Deixe-me olhar
Nestes olhos
E dizer que vejo
Os meus.

Ensina para mim
Tudo que sabe?
Sou primata
E não sei amar.

Sou o próprio conceito
De cetiscismo em pessoa,
Quando o assunto é amor.

Mas sei que se vir
E sentir essa coisa absurda
Cousas deverão prosperar.



Benjamim Neto.

sábado, 4 de agosto de 2012

True King

"Let me tell you a story..."
E papai lia para mim
Lindas estórias
De 'Adventures of England'.


Elas diziam sobre
Os mais famosos dos Kings
Que meu país já teve.


Depois que papai leu
A todas aquelas umas,
Descobri que o verdadeiro
De todos os Kings
Era o que lia para mim.






Tommas D'artoya.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fingidor Desafortunado

Passei a contemplar, então,
Os inúmeros raios
De sol, que competiam
Com minha vista.


O dia era calmo.
Até mesmo o tempo
Deu trégua.


Mas, meu tênue encanto
Foi, de fato, por um pássaro
Que fingia ser gente:


Ele cantava,
Assoviava,
Dormia
E voava,


Assim como eu.




Lino Pedro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Declarações de Jacques Pierre I

Quando jovem, tentei ser escritor, jornalista e poeta.
Não sucedi em nenhuma destas profissões.
Meu único sucesso foi fracassar em tudo. 
Só não fracassei em amar perdidamente uma dama.
Uma dama que amei e que me amou.
Seu nome? Não importa mais.
Está perdido entre muitos outros nomes em minha memória.
Aqui neste papel, estão cravados mágoa, 
arrependimentos e raiva daquela noite;
A noite em que tudo acabou!
Em que, depois de meses, era a primeira vez
Que aquela dama ia embora para casa sozinha
A primeira noite que, em vez de escrever com tinta
Escreveria com arrependimentos. 
Eis o papel, meus amigos:


" Mas nem adiantaria que eu me deitasse esta noite
Dormir está fora de contexto, chorar também.
Procuro distrair-me, mas com o que?
Por que estar com o corpo em outra coisa
Quando a mente ainda está com ela?
A mente, e os pedaços do que era meu coração.
Pois só de pensar nela, meu corpo se esfria
Só de pensar nela, um suspiro sai de mim
Só de pensar nela, me vem a vontade
De além de pensar, estar com ela.
Que um raio caia sobre mim
Se eu não for o mais infeliz francês deste país, hoje!
Fecho os olhos, a vejo.
Olho para a Lua, a vejo.
Olho para a rua, a vejo.
Só não a vejo onde deveria vê-la
Aqui comigo."


Jacques Pierre.