sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Caso Dos Parques de Londres


1

  Eu caminhava sem direção no Battersea Park, o dia estava escuro, não sabia se ia chover ou não. Eu não tinha acostumado com o clima de Londres ainda. Quando eu avistei o La Gandola al Paro, uma cafeteriazinha dentro do parque, eu decidi que um café poderia me fazer bem. Café sempre me acalma - soa irônico, eu sei. O dia estava gelado, e as pessoas estavam todas lá dentro.
Já não tinha um bom caso fazia tempo, isso me deixava nervoso - sem ter no que realmente pensar. O último bom caso tinha sido um roubo de jóias de uma rica viúva que estava sozinha em sua casa. Era claro que a empregada despedida uma semana atrás não havia ficado muito contente. Pegamos a moça em flagrante vendendo as jóias no mercado negro. Felizmente tenho amigos deste ‘mundo’.
  Estava observando as pessoas ao meu redor : um casal, cujo homem está esperando o momento certo para fazer um pedido de casamento à moça. Ele deve ser filósofo ou sociólogo, pois carrega um livro de Marx na bolsa de couro ao lado direito de sua perna, que treme constantemente devido ao nervosismo. Sua mão direita não para de tocar o bolso de sua 'perna tremedora'. É um homem destro e inseguro. À minha frente, no balcão, um homem toma uma xícara imensa de café com licor de chocolate. Cabelos grisalhos, mãos trêmulas (como a perna de nosso futuro noivo), caixa com pertences, atas, pastas, uma calculadora e chaves do carro ao lado de sua xícara...despedido do emprego. Mas que emprego? Com um sapato bem engraxado assim só poderia ser bancário.
  Meu café com chocolate suíço acabara de chegar, quando um estrondo muito forte foi ouvido por mim e por todos os ocupantes daquela cafeteria – um tiro de pistola, eu sabia. O barulho veio de fora, todos os clientes se levantaram num pulo. Eu deixei as cinco libras em cima da mesa e corri para ver o que acontecera. Uma moça com seus trinta e mais alguns anos estava estirada ao chão, havia sangue em volta dela e ela pressionava a origem do sangramento: seu abdômen.
Seus olhos muito abertos, sua respiração suplicando a vida, ela não teria muito tempo, eu sabia disso. Então a perguntei quem havia feito aquilo, ela abriu a boca para me dizer, mas o sangue de seu estômago, que saía por sua boca, não a deixava falar. Ela arregalou ainda mais os olhos por um ou dois segundos, segurou minha camiseta, me puxando para mais perto dela e finalmente disse: três.

2

  “Três”? O que diabos queria dizer aquilo? Três o que?! Confesso que dentro de mim a felicidade e a angústia brigavam: finalmente um caso intrigante!
  A polícia passou-me alguns dados: Sonya Wallok, publicitária, morava há algumas quadras do Battersea Park, no Nº 18 da Ursula Street, com sua irmã, Lucy, de vinte anos.
  Liguei para meu irmão, nos Estados Unidos, passei-lhe todas as informações que conseguira reunir e no fim ele disse uma coisa que foi de muita ajuda para a resolução do caso: quem comete um crime com uma pistola no meio de um parque, em frente a uma cafeteria, e tem a certeza de que não será pego?
  Eu tinha que começar a investigar alguns pontos de fuga, pois quando sai da cafeteria, não havia ninguém lá fora, exceto a moça. Felizmente a polícia inglesa me conhecia, e passar-me-ia o laudo do médico que cuidara do caso. Fui chamado à porta pelo inspetor Breck, um sujeitozinho muito frio, alto, um pouco acima do peso, e com olhos acinzentados que penetravam na mente das pessoas. Gostei dele. Logo quando entrou já foi direto ao assunto:
  - A polícia quer você neste caso, senhor Allan.
  - Com ou sem o consentimento da polícia eu entraria neste caso, inspetor. – Apertamos as mãos. – Chame-me de Dominick, por favor.
  - Quem você acha que possa ter feito isto? – ele perguntou.
  - Ainda não tenho ideia, inspetor Breck.
  - Então com as informações que lhe passarei, tudo ficará mais fácil. Conheço você e seu irmão... Lann.
  - Lenn.
  - Isto mesmo!Lenn!
  - Há algum crime que se relaciona com este? – perguntei.
  - Bem, na verdade há sim, senhor Dominick.
  - Então diga logo, inspetor! Sem lerdear, conheço a polícia...
  O inspetor tentou manter sua postura séria ao ouvir aquele meu insulto, mas percebi uma veia saltando em sua têmpora, eu não sabia se ria ou se me desculpava.
  - Há um mês, senhor Dominick, aconteceu um crime semelhante no Roundwood Park, uma mulher de mais ou menos vinte anos fora encontrada morta com um tiro no lado esquerdo de seu abdômen. Chamava-se Paola Lucci. Pessoas que estavam perto do local disseram ter ouvido o tiro. Nenhuma arma encontrada e nenhuma pista do assassino, assim como no nosso caso de Battersea. Ela trabalhava numa loja de penhores, vivia sozinha a algumas quadras dali.
  O inspetor fez uma pausa, esperando que eu comentasse algo a respeito, mas apenas fiz um gesto para que continuasse.
  - Por coincidência, Margaret Agrid foi encontrada morta no St. James’s Park, um mês antes do crime de Roundwood Park, dois meses antes deste nosso caso atual.
  - Claro que esta tinha entre vinte e trinta anos, era de classe média e morava a algumas quadras dali, não é?
  - Bom... O senhor percebeu também. Nenhuma arma foi encontrada. Um vendedor ambulante ouviu o tiro e tentou socorrer a moça. Ele diz que a última palavra que ouviu dela foi “um”.
  - Mas é claro que foi. E o laudo do médico? – perguntei.
  - A senhorita Agrid também morreu com um tiro no abdômen. Infelizmente, ela estava grávida de dois meses, e ambos morreram. O marido dela ficou muito perturbado com a história, deu pena do sujeito.
  - Algo mais?
  -Não senhor.
  - Ok, espero que consigamos desvendar o caso. – eu disse.
  - Sim. – O inspetor olhou para o relógio, e arregalou um pouco os olhos – Bem, senhor Dominick, devo ir agora.
  - Tudo bem, você foi de grande ajuda, inspetor Breck.
  - Espero que desvendemos este caso, chega de assassinatos em parques!

3

  Estava na casa da primeira vítima, na 29 da Great Peter St. Fui recebido pelo viúvo da Srta. Agrid, Paul Agrid. Ele aparentava tristeza, mesmo dois meses após o assassinato de sua mulher (não sei como ainda conseguia). Era um homem alto, magro e tinha olhos castanhos que combinavam com a cor de seus cabelos.
Após me sentar numa poltrona indicada pelo Sr. Agrid, comecei:
  - Sinto muito pela sua perda, meu senhor.
  - Obrigado – ele respondeu, olhando para baixo.
  - Preciso que o senhor me diga, estava suspeitando de algo a respeito de sua mulher?
  - O que? Isto é um insulto! Você não pode...
  Interrompi o Sr. Agrid com a mão e disse:
  - Acalme-se, senhor. Preciso que me conte tudo que sabe sobre sua mulher, se tinha algum inimigo, se já havia passado pela prisão, algo que não fique claro só de olhar pra ela.
  - Não há nada! Meu Deus!
  Depois de um minuto ou dois de silêncio, eu pedi ao Sr. Agrid que me dissesse o que sua esposa fizera mais cedo naquele dia.
  - Ela... Saiu, simplesmente saiu.
  - E o senhor não sabe para onde ela foi?
  Houve uma pausa...
  - Tudo bem... Ela e eu havíamos tido uma briga naquele dia, coisa de casais, você sabe...
  - Felizmente, não.
  - Ah, senhor Dominick, são brigas por fatos tão bobos... Havíamos brigado na manhã daquele dia. Ela decidiu sair de casa, passear um pouco, tomar um café. Disse que mais tarde voltava, mas... mas...
  - Sim, eu entendo. – pensei um pouco antes de continuar – Vocês planejaram este filho, creio eu?
  - Sim, seria nosso primeiro.
  - Ótimo! Fazer as coisas de forma pensada é essencial.
  O resto da conversa foi um blá-blá-blá infernal, que me fez querer sair de lá o mais rápido possível.
  Após voltar para o hotel onde me hospedara, subi ao meu quarto e sentei no sofá com as pernas cruzadas. Fiquei pensando nas duas outras vítimas. Este primeiro assassinato já estava deduzido, me restavam dois outros que, se comprovassem minha teoria, seriam os dois últimos que este assassino teria sucesso.

4

  Agora eu me encontrava na 111 da Wrottesley Road, perto de Roundwood Park.  Na casa de Paola Lucci estava sua irmã, Mary, uma moça baixa, de rosto fino e com um ar de impaciência. Talvez ela não quisesse falar, mas, felizmente, eu gosto de quando as pessoas não querem falar.
  - O crime aconteceu há mais de um mês atrás, não foi, senhorita Mary?
  - Sim, senhor Dominick. Uma tragédia! Queria eu mesmo pegar o salafrário pelo pescoço e...
  - Acalme-se, senhorita. – fiz um gesto com a mão – Deixe este trabalho para a polícia.
  - Espero que o façam antes deste sujeito fugir, como fazem todos os assassinos atuais. Agora me diga, o que quer saber de mim?
  - Preciso que a senhorita me responda a algumas questões.
  - Pode dizer – ela respondeu.
  - Sua irmã morava sozinha aqui, ela tinha algum namorado ou companheiro?
  - Bem, ela estava saindo com um tal de Paul (não sei nem seu sobrenome), um sujeitozinho estranho, eu não gostava nada dele! Minha intuição diz que... que...
  - Nada de se precipitar, senhorita.
  - Sabe como são as mulheres quando apaixonadas. Ficam tolas!
  - Nem todas, senhorita. Conheço muitas mulheres que... – parei um pouco – Isto não é assunto para minha visita. Sua irmã estava saindo com este Paul há quanto tempo?
  - Menos de um mês. Ela o conhecera num desses barzinhos, ou cafeteria, não me lembro.
  - Entendo. Onde este Paul mora?
  - Também é um fato que não sei. Ele nunca convidou Paola a ir à sua casa.
  - Descreva-o, por favor.
  - É um desses homens pelos quais a mulheres se apaixonam facilmente: tinha olhos azuis, cabelo militar loiro, era alto e magro. Confesso que seu olhar me dava medo, algo de muito esquisito existia na mente do sujeito. Passaram-se duas semanas após o primeiro encontro e ele disse que não queria mais sair com ela, porque se apaixonara por outra, o senhor pode acreditar? Que sujeito insensível!
  - Sim, posso.
  A senhorita Mary só faltou dizer “que homem estranho”, mas preferiu reter-se a me olhar de forma indignada.
  - Acho ridículo isto que ele fizera, Paola ficara arrasada. Precisa de algo mais, senhor Dominick?
  - No dia do assassinato de sua irmã, ela te avisou que iria ao Roundwood Park? E Com alguém?
  - Ela me ligara, mas eu não estava em casa. Deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica, ela parecia muito feliz. Não me disse aonde iria, disse apenas que sairia de novo com alguém muito especial.
  - A que horas foi isto?
  - A mensagem fora deixada as quinze para as nove da noite, senhor.
  - Ótimo. Muito obrigado, senhorita Mary, foi-me de grande ajuda.
  Depois de me despedir, fui ao Roundwood Park. Andei vagamente por toda sua extensão e percebi que ao lado do parque havia um cemitério. Eu precisava ligar para o inspetor Breck.
  O inspetor Breck me atendeu rapidamente no telefone de seu escritório. Eu sabia que era um telefone de escritório, pois eles têm seu ruído característico.
  - Inspetor Breck, onde fora encontrado o corpo da senhorita Lucci?
  - A Nordeste do parque. Pessoas que passavam por perto tentaram socorrê-la, porém nem os médicos, que chegaram logo depois, conseguiram fazer algo.
  - Perto do cemitério, você diz?
  - Sim, isso mesmo. Algo em mente, meu amigo? – Ele perguntou.
  - Está tudo ficando mais claro,contudo não quero definir nada ainda. Muito obrigado, inspetor.
  - Qualquer hora que precisar, senhor Dominick.
  Encostei-me ao sofá, liguei a televisão no mudo. Felizmente havia em meu celular uma quantidade imensa de músicas dos psicodélicos anos 70 – elas me faziam pensar melhor. Liguei-as e fiquei observando as pessoas da TV. Na manhã seguinte eu faria uma visita. A última.

5

  A senhorita Lucy estava inquieta, parecia que o estofado do sofá onde sentava não iria aguentar muito tempo aos arranhões de seu dedo indicador. Tentei acalmá-la:
  - Acalme-se, senhorita Lucy. Só quero lhe fazer algumas perguntas.
  - É que não estou acostumada com a visita da polícia em minha casa, senhor Dominick.
  - Polícia? Não, não sou da polícia. Por melhores que sejam os policiais ingleses, não se comparam aos meus métodos. – Lucy me olhou como se quisesse dizer “humildade não é seu forte, não é mesmo?”.
  - Perdoe-me, senhor Dominick. Diga-me, o que quer saber?
  - Sua irmã tinha namorado?
  - Isto é importante?
  - Muito importante. – respondi quase a insultando. Eu não perdia meu tempo fazendo questões sem importância.
  - Tudo bem. Sonya estava saindo com um homem chamado Jim. Loiro, alto, barbudo. Era-me muito bonito.
  - Suponho que Sonya e você não conheciam sua casa?
  - Ao contrário, senhor – ela respirou profundo – Sonya fora passar à tarde com ele em sua casa no dia em que... em que...Bem, ela me deixou seu endereço. Randolph Avenue ,
  - E este tal de Jim, viu-o depois da morte de sua irmã?
  - Mas é claro! Ele que me contou no dia seguinte (isto é, ontem). Estava arrasado, mas teve que tomar sua posição de homem, quando desmaiei ao ouvir a notícia. Disse que deixou Sonya aqui em frente, para garantir a sua segurança, e foi embora.
  - Então ele veio até aqui ontem. – pensei por alguns minutos. – Depois disto falou com ele novamente?
  - Ele me ligou hoje de manhã, dizendo que viajaria para os Estados Unidos por alguns meses. Queria esquecer-se disto tudo.
  - Estados Unidos? – falei com um tom de piada em minha voz, que a senhorita Sonya não entendera.
  - Exato, senhor Dominick.
  - Ok. Sabe onde este Jim mora? Quero lhe fazer uma visita.
  - Infelizmente não, senhor Dominick. Só minha irmã sabia.
  - Tudo bem, não tem problema. Ele não estaria lá para me receber mesmo.
  - Mas o voo dele é só a noite, se você for agora...
  - Não, – interrompi – ele não está mais lá, senhorita.
  - Como sabe? – ela perguntou um pouco intrigada.
  - Senhorita Lucy, este homem não mora na Randolph Avenue, este homem não está indo aos Estados Unidos. Senhorita Lucy, este Jim é o assassino de sua irmã.

6

  Decidi relaxar nos próximos dias. Passou-se um mês desde a morte de Sonya Wallok. O caso já estava solucionado, eu queria continuar a aproveitar minha estadia em Londres. Não contei nada à polícia, pois sabia que antes daquele dia não haveria outro assassinato.
  Liguei para Lenn de manhã e disse-o que já tinha tudo em mente, só não sabia qual a próxima vez que o assassino atacaria. Não sabia como pegar o assassino, mas sabia o tipo de pessoa e onde ele iria atacar, graças à notícia do jornal daquela manhã.
  Resolvi que pediria ajuda à polícia, desta vez. O inspetor Breck me atendeu:
  - Pois não, senhor Dominick! Algo em mente? Quem é o assassino? Já descobriu tudo, eu imagino...
  - Se você me deixar falar eu posso contar-lhe o que penso. – respondi irritado.
  - Ah, me desculpe senhor. Este é um caso de grande importância, quero o fim disto logo!
  - Inspetor Breck, preciso que coloque homens disfarçados de cidadãos no Peckham Rye Park, a partir das 15 horas. Homens, mulheres e crianças como atores.
  - Entendido, o que quiser, meu caro. – ele disse.
  - Tudo bem, obrigado.


7

  Minhas mãos suavam, eu tinha certeza de que não erraria! O assassino estaria ali! Eu só precisava encontrar as pessoas certas!
  Assim se foi. O campeonato mirim de futebol que aconteceria no Athenlay Football Club, ao Sul do Peckham Rye Park, estava começando. Eram 15 horas em ponto. O inspetor Breck, mais dois homens e eu ficamos escondido atrás de alguns arbustos. Meu objetivo era poder observar uma pequena fonte, ao sul do parque, bem perto do Athenlay Club.
  De repente, um casal se aproximou. A moça devia ter no máximo trinta anos, era alta, tinha olhos azuis e um sorriso deslumbrante em seu rosto – uma idiota apaixonada. O rapaz era alto, tinha cabelo loiro militar, estranhos e profundos olhos azuis, havia um ar macabro em sua face. Não havia dúvida, era ele!
  O inspetor Breck olhou para mim, suas mãos suavam ainda mais que as minhas. Eu fiz um sinal com a mão, pedindo-lhe que só agisse ao meu comando. Ele entendeu e passou a informação aos homens dele.
  Conseguia ouvir claramente a conversa do casal:
  - Alan, você é tão simpático, tão educado. Trazer-me para um lugar assim logo depois de se declarar de forma tão doce, parece que estou nos anos 50 novamente! - ela disse.
  - Não consegui desviar meus olhos de você desde a primeira vez que a vi. Realmente foi muito bom eu ter ido naquele dia àquela cafeteria. E fiquei muito contente de me permitir acompanhá-la no campeonato de futebol de seu filho.
  - Sim, foi ótimo! Pena que terei de voltar logo. O intervalo de jogo dura apenas 15 minutos.
  - Então, nos apressemos – ele disse.
  Depois disto, ele a puxou suavemente pelas costas e a beijou. Passaram-se alguns minutos, e retomaram a conversa. Ela havia se sentado na beira da fonte, ele levantou e parou em sua frente e disse:
  - Minha querida, é aqui que nós terminamos.
  - Como disse? – ela perguntou com um ar espantado.
  - Pois é, quero que me faça um favor. Quando as pessoas vierem te socorrer, diga-as que você foi meu número quatro, tudo bem? O tiro que lhe darei não te matará antes de pelo menos vinte minutos, tempo suficiente para alguém vir até aqui, por conta do barulho. Não faça esta cara de assustada...quando você consegue finalmente fugir de um lugar onde as pessoas te prendem e dizem que você está louco, te dão remédios como se fossem doces, te colocam para dormir como se fosse uma criança, quando você consegue fugir, há de se descontar em alguém. Minha mãe e minha avó não passaram da casa dos 20 e mesmo assim foram felizes, portanto nenhuma mulher neste mundo precisa... Adeus, querida.
  Neste momento eu acenei para o inspetor. O assassino já estava com a mão dentro de seu terno, estava retirando a arma quando um dos homens de Breck pulou em cima do sujeito e segurou-lhe um dos braços, o outro policial rapidamente segurou o braço livre do sujeito abordado. O inspetor Breck correu e pegou a pistola de dentro do terno do homem. A mulher gritava feito louca. Eu a acalmei, dizendo que estava tudo bem e que ela devia voltar para o campeonato, assistir o jogo de seu filho, que já estava voltando do intervalo, de acordo com o barulho feito pelas torcidas. Ela me abraçou, estava tremendo muito, deu meia volta, disse “muito obrigado” aos policiais, e voltou ao Athenlay Club.

8

  O inspetor Breck veio para me esclarecer alguns pontos, e – o mais provável – para me perguntar como eu havia descoberto tudo. Começou:
  - Ele se chamava Jon Parl, 30 anos, desempregado. Vivia do pouco dinheiro deixado de herança por sua mãe, que morreu em trabalho de parto ao dar a luz o seu segundo filho, aos 25 anos. Era totalmente dependente da avó. Vivia escondido, foragido de um hospício há 3 meses.
  - Daí o ódio contra mulheres desta idade. O vazio deixado lhe causou um tipo de trauma e ódio, creio eu.
  - Sim, ele passou pelos mais diversos psicólogos. Segundo consta nos dados, ele matou o irmão também, sufocado. Sua avó, com que passou a viver após a morte da mãe, morreu 4 meses atrás. Foi quando ele parou de tomar seus vários remédios.
  - Quando tudo começou – eu disse.
  - Sim. Agora me conte, por favor, senhor Dominick, como descobriu tudo?
  - Bem, no começo eu não tinha pista alguma, surgiram apenas assassinatos em parques: locais públicos! Não tinha muito sentido, até que eu conheci o local de cada assassinato. Era sempre o mesmo padrão: local isolado, mas perto de pessoas que poderiam ouvir o tiro; os locais onde as vítimas eram encontradas tinham sempre um caminho de fuga; e toda vez acontecia em parques perto das casas das vítimas.
O assassino com certeza enlouqueceu quando parou de tomar seus remédios. A morte da única pessoa que ele ainda amava foi a chave para destrancar sua loucura. Ele decide “se vingar” de todas as mulheres da idade na qual sua mãe se fora, para que estas não fizessem o mesmo com seus filhos. Sim, este é meu porquê do crime. É insano, eu sei, mas não vejo outro.
  "Jon com certeza se passara por um homem de bem, querendo ajudar a senhorita Agrid, cuja briga escutara enquanto passava na rua – ele não perderia esta oportunidade. Seguiu-a até a cafeteria, convidou-a a ir para algum parque, o mais próximo dali. Enquanto a massa de pessoas se concentrava próxima ao Buckhingham Palace, ele aproveitou e levou-a para trás do palácio, num campo aberto, porém cercado por árvores. Ali matou sua vítima número um.
  A vítima número 2, Paola Lucci, morta perto do cemitério. O assassino, um homem bonito que se apresentara com o nome de Paul, faz a moça se apaixonar por ele. Duas semanas depois ele dá um fora nela, mas eis que pede um reencontro, no parque, alguns dias depois. A Srta, Lucci, toda contente, vai ao encontro marcado, provavelmente, às 21 horas. Lá ela é assassinada e o assassino foge pelo cemitério ao lado do parque, que estava fechado, devido ao horário.
  A terceira moça, Sonya Wallok, morta quase da mesma forma: apaixona-se pelo bonitão Jim. Um dia Jim a convida a passar uma tarde com ele, em sua casa. Enquanto estão vindo embora eles passam pelo Battersea Park, onde eu tomava café. Aproveitando o cenário perfeito, pois não havia ninguém tomando café fora da cafeteria, Jim - ou devo dizer, Jon - assassina Sonya, e foge pela margem do rio. As pegadas deixam clara a fuga. Métodos antigos se fazendo atuais...
  Ah, é claro, os locais onde ele procurava suas vítimas: cafeterias. Sua mãe trabalhara numa antes de engravidar de novo (de um homem que Jon nem sabia quem era) e de morrer. Tudo isso fez parte da loucura de Jon. Nem seu irmão mais velho escapou de sua loucura. Foi assassinado sufocado, e então Jon é instalado no hospício. Anos depois, sua avó morre. A notícia chega aos ouvidos de Jon, que consegue finalmente um bom plano de fuga e escapa do hospício.
  Agora sua última vítima, quando não obteve sucesso. Todos nós ouvimos que ele a conheceu no local onde ela trabalha, uma cafeteria. Quando ele soube que ela era solteira, logo se apresentou com o nome de Alan, jogando todo seu charme para cima dela. Ela não perdeu a oportunidade de convidá-lo a acompanhá-la no campeonato de futebol em que seu filho participaria. Por coincidência, ficava ao Sul do Peckham Rye Park. Foi o único local possível que eu encontrei no mapa de Londres, que o assassino poderia usar naquela data, com aquela mulher. O cenário era ótimo: parque, pessoas por perto mas com um local isolado. A fonte. Se acreditam em destino, creio que este assassinato não deveria mesmo acontecer. O padrão de Jon foi quebrado. O parque não ficava perto da casa de sua vítima! É engraçado, eu sei.
  Eu sabia que a tentativa de assassinato ocorreria naquele local, com aquela fonte. Não há lugar melhor no parque do que aquele. Felizmente eu visitara aquele parque antes do assassinato, diferente de todas as outras vezes."
  - E por que escolher os parques como os locais para seus assassinatos? – O inspetor me perguntou.
  - Os parques são frequentemente visitados, é raro não estarem com algumas pessoas por perto. Jon queria simplesmente atenção, o que não conseguira na vida toda. Isso explica seu porquê de não matar as vítimas instantaneamente, mas sim dar-lhes a chance de dizer um número. Imagine se este caso chegasse ao número 5, ou até ao 10? Entende como chamaria atenção da mídia? Era o que ele queria. Fora isso, os parques são locais abertos, onde há sempre pontos de fuga à disposição.
  - Fantástico, senhor Dominick! Fantástico! – seus olhos brilhavam de emoção.
  - Apenas meu trabalho, mas é claro que não foi algo simples.
  - E agora, voltará aos Estados Unidos?
  - Sim, já alonguei demais minha estadia em Londres. Além do mais, tenho que ver a expressão de meu irmão ao contar-lhe a resolução deste caso. Ele ficará com raiva por não ter participado, tenho certeza! – eu ri.
  - Ha!Ha! Irmãos, sempre irmãos. – ele disse brincando.
  - Bom, devo ir. Tenho que arrumar minhas coisas e dormir. Meu avião parte cedo amanhã.
  - Ok, meu amigo. A polícia inglesa tem esta dívida com você!
  - Não se preocupe, inspetor Breck.
  - Muito obrigado, e boa viagem amanhã, senhor Dominick.


Matheus Zucato Robert.

2 comentários:

  1. Muito bom, Matheus!! Intrigante, curioso e com um humor sutil. Boa descrição dos locais e de pessoas (adoro isso!)E...interessante: não consegui ler o Dominick sem pensar em você. Seu alter ego? parabéns!

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  2. "E...interessante: não consegui ler o Dominick sem pensar em você." HAHAHAHAH, eu tbm. D:

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